Corrida e gravidez

Em 2005, quando tive a Malu, eu não era exatamente o que se pode chamar de CORREDORA. Na real era uma pessoa minimamente ativa, nas minhas 2 ou 3 visitas semanais à academia, para me manter magra.

Como nunca tive que lidar com os dilemas que envolvem gravidez e corrida, também nunca me aprofundei muito sobre os pros e cons dessa combinação. Na verdade até enxergava como uma coisa desnecessária, já que quando a gente tá grávida a idéia é “segurar” o bebê dentro da barriga, enquanto o movimento da corrida parece ser justamente o contrário, uma verdadeira luta com a Lei da Gravidade.

Descobri que estava grávida em Junho, no meio do treinamento para a Maratona de Berlim de 2017. Foi assim: corri 18km na Sexta, 10km no Sábado, mais 20km no Domingo e na Terça de manhã meu exame do xixi deu positivo.

Foi aí que comecei a aprofundar minhas pesquisas sobre o assunto, tanto buscando informações, estudos e etc, como falando com amigas que passaram por isso. Tudo bem, não tenho muitas amigas que passaram por isso, a maioria das corredoras que conheço tiveram filho antes de se apaixonarem pelo esporte.

Mesmo tendo lido muito mais coisas positivas do que negativas sobre corrida na gravidez, não me senti segura e algo me dizia pra não correr.

Na primeira consulta de pré natal com minha ginecologista de longa data, Dra Maria Cristina Gennari, dividi minha insegurança sobre o assunto, e embora ela tivesse pacientes que correram até meia maratona grávida, em nenhum momento escutei “vai lá! pode correr, tranquila!”.

Enfim, de um modo geral eu não estava afim e não me sentia mais à vontade em correr.

3 semanas depois do meu último treino, e de ter descoberto a gravidez, tive um sangramento e precisei ficar 6 semanas deitada de repouso absoluto. Nada de passeio, nada de treino e nada de trabalho.

O aborto espontâneo no primeiro trimestre é bem comum, ocorrendo em mais de 25% das gestações. E em nenhum momento a Dra Maria Cristina me poupou da realidade, de que o quadro de descolamento ovular aumenta ainda mais as chances da gravidez não ir adiante.

Durante esse tempo, até completar 3 meses de gravidez fiquei num up and down de culpa, misturada com raiva e a quase certeza de que os últimos treinos tinham a ver com todo esse problema. É muito fácil a gente achar que é forte e fodona, até perceber que não temos quase controle nenhum sob o que acontece dentro da gente.

Fiquei com o cú na mão durante meses, e certa de que não queria nem iria correr grávida.

As semanas foram passando, o bebê foi crescendo, os exames aparecendo cada vez melhores, então pedi pra Dra Maria Cristina me liberar para o trabalho antes do final do atestado médico.

Voltei ao trabalho, voltei também de leve pra musculação e nos meses seguintes fui tocando a vida de acordo com minhas condições físicas. Desde o começo sinto MUITA AZIA, mas aproveitava os dias em que me sentia menos cansada pra treinar, transar e fazer coisas legais (claro que trabalhando todo dia!).

Do quarto mês até metade do quinto, me sentia cansada em 95% do tempo. A sorte é que meu marido, minha mãe, a Malu e as pessoas que convivem comigo (oi @sycardoso e @suwacha) foram muito pacientes e me ajudaram muito nessas longas semanas.

E agora entrando último trimestre, sem auto cobranças, voltei a me sentir disposta. Fiz todos os exames mais importantes, incluindo o Ultrassom morfológico de 21 semanas, e tendo em vista que tudo está perfeitamente bem resolvi que era a hora de dar uma nova chance para a corrida.

Uma coisa que estou praticando muito nessa gravidez é o respeito ao que meu corpo sente, e é simples: se me sinto bem faço milhares de coisas, se me sinto indisposta fico quieta e não me obrigo à nada.

     Alysia Montano  
Kara Goucher e Paula Radcliffe

Não sei por quanto tempo vou conseguir manter os treinos, ou quantas vezes na semana conseguirei ir, mas estou tentando levar tudo isso sem peso. Eu não TENHO que correr, resolvi voltar porque estava com saudades de sentir as sensações que a corrida oferece, e no momento em que me senti segura pra isso.

Ainda estou me adaptando. Não sei qual é meu ritmo confortável de hoje, qual distância é ideal, ou que roupas usar sem sentir incômodo, mas estou disposta a descobrir.

Acho que o mais importante para uma mulher grávida é fazer apenas o que ela se sente confortável. Mesmo que pareça que não tem problema, ou que com um histórico cheio de kms percorridos tudo é possível, a insegurança e o instinto podem sim falar mais alto, e na minha opinião a melhor escolha é respeitar.

Por aqui vou me adaptando e aprendendo, logo mais eu conto como foram os treinos.

Namastê!

 

 

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