dia SEM CONSUMO

Hoje, 15 de março é o DIA DO CONSUMIDOR e enquanto corria fiquei pensando que interessante seria se houvesse um dia do “não consumo”, onde fossem fomentadas discussões e ideias sobre a importância de NÃO CONSUMIR, pelo menos coisas que não precisamos.

Meu percurso foi ali pelos arredores (chiques!) do Parque do Povo, passando em frente do Shopping JK (um dos mais caros de SP) e acho até que cruzei com o ex CEO do Iguatemi, Carlos Jereissatti Filho. Fiquei pensando tb em como seria interessante se os shoppings centers e comércio fechassem mais vezes além do dia 01.01 – que é o único dia que fecham. Nesse corre de hoje, estava ouvindo um podcast com a maravilhosa Cris Naumovs e devaneando sobre questões existenciais, dentre elas consumo e nosso papel na mudança do atual modelo econômico, que tem como objetivo gerar ganhos para poucos às custas de prejuízo para muitos e do esgotamento dos recursos do planeta.

Claro que não fico fantasiando sobre mudar o mundo, até porque sei que esse tipo de mudança depende muito mais das empresas do que as pessoas. Mesmo assim, na minha insignificante existência, tento fazer o melhor que posso dentro do que acredito ser útil. Como disse o Andre Carvalhal ontem no curso, sem julgamentos, cada pessoa está num momento, cada um tem uma séria de experiência e trajetórias então talvez os dados abaixo não façam sentido. A pesquisa não é uma verdade absoluta, mas foi isso que responderam as pessoas quando foram questionadas sobre seu consumo:

Neste momento eu escrevo de um MacBook, que comprei novo na caixa, mas de segunda mão quase de graça e tenho um Iphone 13, que provavelmente tem alguma parte com ouro extraído de garimpos ilegais, então nem que eu quisesse ser uma cagadora de regras, conseguiria. Estou inserida no sistema tanto quanto qualquer mulher de classe média. Minha questão é mais sobre abrir possibilidades para novos pensamentos, pois é através deles que nascem ideias e ações. Cada um tem suas motivações para consumir, mas chegamos num momento de existência neste planeta que não dá mais pra fingir que nada tá acontecendo. Que podemos continuar pensando e consumindo da mesma maneira.

Comecei a pensar mais sobre isso durante a pandemia. Antes disso, imersa em parcerias com a Nike e outras marcas grandes onde, por mais que eu romantizasse, meu trabalho não era nada mais do que vender tênis através do do meu estilo de vida. Até aí tudo bem, porque compra quem quer / quem pode e eu até poderia dizer que não tenho culpa pelas escolhas de ninguém. Acontece que quando a gente abre um novo horizonte é impossível desfazê-lo, e foi exatamente isso que me aconteceu quando resolvi parar para pensar sobre o que meu conteúdo despertava em quem o consumia. Provavelmente eu instigava as pessoas a comprarem algo por um prazer momentâneo, pq cada semana eu aparecia com um tênis ou um top novo…enquanto muita gente ainda não tinha pago nem a primeira parcela do último tênis comprado por influência minha…

Posso estar viajando e me achando meio influenciadora das galáxias, posso? Porém, como tenho dados e sei exatamente qto meus links de afiliados venderam na Black Fraude 2020, posso dizer que de fato eu influenciava sim no consumo. Aconteceu que me cansei me de mim mesma e de toda aquela palhaçada que eu tava vendendo em formato “incentivar mulheres a correr”. Enfim, eu sei que saí, aí meio que voltei em outros projetos mas já com esse desconforto permeando meu conteúdo e no final do ano passado fechei um trabalho de tradução de marca com a VERT (depois conto em detalhes) e mergulhando no universo da marca, me apaixonei por ESG (Governança ambiental, social e corporativa).

Nesse trabalho eu entendi que as empresas tem a responsabilidade de mudar seu modo de operar e o consumidor também tem sua parte no modo de consumir. A indústria segue a demanda, e quem cria essa demanda? Somos nós. A gente quer tênis novo toda hora, blusinha (que pra ser baratinha foi feita por um algum ser humano sob condições precárias), telefone novo (com ouro do garimpo), produtos de beleza etc etc etc…

Da mesma maneira que eu me conscientizei sobre os estragos que a alimentação ruim estava fazendo na minha saúde e nunca mais consegui voltar atrás, parece que essa consciência sobre que produtos e marcas consumo tb é algo que veio pra ficar comigo. Pra mim, está sendo um desafio encontrar maneiras de estar neste universo de consumo sem vender produto, mas sim promovendo reflexões. esse trabalho com a VERT me mostrou que é possível encontrar um caminho, basta encontrar empresas dispostas a trabalhar comigo sem esperar que eu venda nada.

É muito louco, quando alguém me pede pra escrever sobre um tênis, ao mesmo tempo que quero fazer isso pq é algo que realmente sei fazer, vem a voz na minha cabeça dizer que não sou vendedora de tênis. Vou continuar usando tênis, pq vou correr pra sempre. Claro que quero bons tênis e quero tb compartilhar informações sobre produtos que gostei, mas não quero ser vendedora de tênis – quero ser mais útil do que isso para vcs, minha comunidade.

Ainda não sei exatamente o que é consumir consciente, nem consigo rastrear as cadeias produtivas de todas as marcas que consumo. Sei que boa parte da borracha que tem nos nossos tênis vem da Malásia ( em 1876 um inglês roubou sementes de seringueiras do Acre e levou pra lá!) e é extraída sob trabalho escravo…mas não sei muito além disso. Sei tb que as grandes marcas divulgam relatórios de sustentabilidade bonitos em seus países, mas em suas cadeias tem muita destruição em países mais pobres, como o Brasil.

E é isso, embora não dê pra gente saber tudo de todas as marcas, pelo menos dá pra gente fazer uma bela tarefa dentro da nossa própria casa. Pagando bem quem limpa nossa casa, cuidando das nossas coisas para que não virem mais lixo no planeta, não jogando comida fora, pensando bem como gastamos e pesquisando as marcas pra quem damos nosso dinheiro…

Tem muito mais coisa e apesar de saber que a responsabilidade não é só nossa, cada escolha que fazemos importa sim!

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